19/09/2009

Redlic Stratocaster


Essa é minha nova "velha guitarra". Ou seria velha "nova guitarra"?
Prometi contar a história dela...lá vai...
Ganhei do Seizi Tagima: o braço (semi fresado) de marfin costeiro e a prancha de cedro figurado para o corpo. Era uma peça antiga e bem bonita. Acho que foi em 2001 quando fui visitá-lo na antiga sede da Tagima, no Ipiranga.
As madeiras ficaram um tempo "encostadas" - eu dava aulas na escola, trabalhava em shows, dava cursos, era colunista na revista Guitar Player...não tinha tempo nem para respirar...
Mas comprei as ferragens e comecei o braço, terminando-o em 2 dias. O corpo demorei uma eternidade - só tinha tempo nos intervalos das aulas e nos finais de semana prolongados por feriados.
Mandei a guitarra para a pintura. Era para ser amarela, mas o Carlinhos (pintor nosso na época)esqueceu a cor e deixou apenas no verniz. Na verdade, como os veios da madeira do corpo estavam bem figurados e bonitos. Ele deletou a informação...fez um acabamento apenas em verniz poliuretano. Esqueceu a cor!
Ficou natural. E o Benedetti quando foi buscar a guitarra, nem notou pq tinha outros instrumentos também na mesma remessa. Quando chegou na escola, todos adoraram...menos eu...Isso mesmo, não gosto de instrumento natural, na madeira. E todos me convenceram que era melhor assim...
Capa Guitar Player Fevereiro de 2002
Montei a guitarra e ela foi utilizada na capa da revista Guitar Player, edição de fevereiro, referente a matéria: você conhece sua guitarra", de minha autoria.

Verde x Amarelo
Conhecemos outro pintor, o Antonio Carlos. Lá vai a guitarra p/ele pintar. Mudei do amarelo para o "surf green" a lá Fender Stratocaster Jeff Beck Signature. Nem lixei o corpo, apenas guardei o braço e mandei p/ ele. Três semanas depois, finalmente, o corpo "verde calcinha" chegou!.
Não tenho nenhuma foto dessa época. Na verdade, a pintura ficou ruim. O Antonio Carlos era novato em acabamento de guitarras. Nem montei o braço. Ficou assim durante quase 2 anos.
Mudamos de pintor. Conhecemos o Lauro (que está conosco até hoje). Mas a strato verde ficou em processo hibernativo. Um dia chuvoso, resolvi fazer uma arrumação aqui em casa e não é que a guitarra apareceu...
Mandei p/o Lauro. Agora sim. Eu quero amarelo, bem banana. O Lauro sugeriu o amarelo cadillac. Achei LEGAL e ficou do jeito que eu queria.
A guitarra voltou e dois dias depois, a pintura da parte traseira começou a descascar na região do encaixe do braço. E quando montei tudo...descobri que aderência do verniz não estava muito boa. Tudo bem, vou fazer uma versão relic nesta strato. Fiz algo bem sutil. Sem muitas firulas.
Utilizei técnicas similares a Fender Custom Shop, do masterbuilder Jay Black e do luthier Vince Cunetto.
Vince não trabalha mais na Fender Cst Shop. Ele montou sua própria empresa:
E a guitarra ficou assim (abaixo). Utilizei-a por curto tempo. Mas ela começou a descascar mais e mais...e... encostei a guitarra de novo. Nesse interím, fiz outras duas Stratocasters e duas Telecasters. Acabei esquecendo da referida.


Trying Chrome
Um dia, o Lauro me mostrou o catálogo da Cardinale:
Resolvemos testar uma tinta cromo. Rachamos o custo (alto... por sinal) e sugeri a guitarra amarela relic como cobaia. Não faço idéia de quanto tempo esperei pelo resultado. Mas a tinta cromo não ficou boa. Mandei-a novamente para acabamento final com camadas de verniz e quando retornou, não me animei muito. Tinha separado algumas peças para fazer uma customização especial, mas o cromado do corpo estava muito ruim...desisti...
Vermelho Metálico
Mandei para o Lauro de novo. Pedi p/ele fazer um acabamento com verniz e pigmento vermelho sob a tinta cromada. Desta forma, ficaria vermelha metálica no estilo antigo.
Hoje em dia é fácil encontrar cores metálicas prontas. Coisa que em mil novecentos e trá lá lá...só era possível simular uma cor metálica com uma técnica especial. Aplicava se uma cor prata ou ouro como fundo e depois, camadas de verniz com o pigmento da cor desejada. Assim era criado o efeito metálico nas cores.
Mais "chá de cadeira" e finalmente a guitarra chegou. Porém, a aplicação do verniz com o pigmento vermelho produziu uma reação com o fundo (tinta cromada). O acabamento craquelou produzindo "varizes" na pintura. Ficou deveras interessante...
Só me restou aceitar o problema e tentar novamente o processo de envelhecimento. Ou teríamos que lixar tudo, até a madeira.
Tudo bem, sou descendente de oriental...mas paciência também tem prazo de validade.
The Art of Aging
Reliquei inicialmente o corpo utilizando thinner, flúido para isqueiro Zippo com nafta, betume e utilizei uma raspilha para "descamar" o verniz. As feridas foram produzidas com uma chave de fenda. O thinner deixa o acabamento fosco e enfraquece o verniz. O flúido Zippo modifica a coloração do verniz e ajuda no processo de penetração do betume.
Para produzir riscos na pintura, passei uma escova de aço no corpo. Misturei Zippo com betume e a aplicação do composto sob os riscos, deixou a guitarra com cara de maltratada.
O escudo foi concebido com uma placa de acrílico preta figurada. Envelheci o escudo com lixas e danifiquei as extremidades com uma micro retífica. Inseri parafusos velhos e oxidados no instrumento.
Decidi por apenas um captador Sound HH777 amarelo e um botão de volume e um acionador push para splitar o humbucker.
As ferragens foram envelhecidas com uma micro retífica e enxarquei tudo com um produto líquido que ataca a cromeação. Mas isso ainda vai levar tempo para ficar do jeito que quero.

Poutzzz, a camada de verniz ameaça soltar cada vez mais. Motivo pela qual tive que colar um adesivo acima do escudo.
Mas eu não pretendo mais mexer nesta guitarra. Vai ficar assim definitivamente...
Na escala, utilizei thinner, raspilha, betume, bom bril e um maçarico portátil.
Fiz uma mistura de um diluente da acrilex com iódo povidona, para produzir encardidos no topo do fingerboard.
No headstock, o maçarico fez a simulação do cigarro a lá Van Halen ou Eric Clapton...
As tarraxas deixei intactas. Mas vai uma sugestão:
Basta comer um pizza de oito queijos com a mão e afinar a guitarra depois...
Ahhhh, sobre o timbre dela né...muito boa.! Apesar do captador solitário e da aparência podre. Ela fala bem. Qualquer hora ou qualquer dia, vocês poderão vê-la ou testá-la na escola...
fotos: Henry Ho

3 comentários:

Marcio Okayama disse...

Dude ... ficou show....

Vou ter que ter também uma Strat relicada de um Humbucker....

Parabéns!


Oka

Cry Of Voodoo disse...

valeu Marcio, viciei nela...

Anônimo disse...

Fala Henry, blz?

Trombei vc nessa expo music e sugeri um mini-tutorial sobre relic, lembra?

Entao... deixar o corpo "judiado" até que é mais facin... agora o dificil é encontrar uma solução legal para o braço... teria só como descrever essa "solução milagrosa" que vc usou nessa strato?

Abraços, e parabéns pelo blog!
Vitor